quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O sentido das coisas

Uma antiga fonte, nobre e solitária: não há mais algazarra de meninos, o ir e vir das mulheres, o burburinho da água; resta um tanque vazio... Uma obra humana que perdeu o sentido da própria origem. 

 
Como um velho castelo, com rachaduras, habitado por heras e arbustos, marcado pelo abandono dos homens e dos reis... Uma obra humana que perdeu o sentido de sua existência .

O sentido das coisas, uma força secreta, a alma de uma obra, o seu espírito.
Perdê-lo significa perder aquilo que lhe deu origem e sustentava sua vida.
O sentido das coisas é o milagre de uma nascente subterrânea , que faz surgir, numa paisagem imensa de areia e de céu, uma realidade viva: a surpresa de um oásis.

Porque, como Deus se revela, tornando-se humano, o sentido existe tornando-se matéria.
O sentido toma o corpo, o espírito se faz letra: entrelaçando-se, tornam-se gesto, obra ou texto, num mundo concreto de seres humanos e de coisas.
Mas o corpo e a letra, anifestando o seu sentido, ao mesmo tempo escondem-no...

Não serão, na realidade, os ídolos que encerram o espírito e o seu mistério, podem apenas sugeri-los: na parábola do que há de vir, amanhã talvez seja uma casa, que não viverá senão por sua própria solidão.

O significado nas coisas é como um relacionamento de hospitalidade: entendimento recíproco que surge discreto e provisório.
Um hóspede não poderá ficar para sempre, mas simplesmente fruir o acolhimento de hoje.

A hospitalidade é, de fato, o prazer de conhecer outras pessoas, de falar de si de outras formas...
E na procura do sentido das coisas, o seu encontro lhe mostrará uma outra dimensão, porque se uma obra é uma expressão necessária, cujo sentido será seu respirar mais profundo.

Mas, se a obra acreditar-se imortal , esquecerá a intuição que a fez nascer, e que pertence, como o corpo de um ser humano, à história e à contingência das coisas que mudam.
E a letra de visível se tornará invisível, encorajando a olhar o espírito além das aparências: a sua verdade será a sua própria transparência .

O sentido lhe dirá, portanto, o dinamismo que anima o ser humano e as coisas, acompanhando os seres em direção a seu futuro.
Mas o seu encontro não será fruto de seus olhos; será o resultado da abertura atenta e curiosa do coração.

E a grandeza do coração será chamada abertura do espírito ou tolerância.

(Renato Zílio)
 


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